Saturday, August 18, 2012

O grão


Viver não é propaganda.
Aqueles quadros clichês de felicidade, aquelas cenas que relembram
o grão instantâneo, aquela luz.
A vida, fora da propaganda, tem outra luz.
Só outra luz.
Nem mais bonita, nem mais feia,
pois que a vida não é mais bonita, nem mais feia que a vida
na propaganda.
Nem mais fácil, nem mais difícil,
pois que a vida não é difícil
se não formos nós a fabricar seus vãos.
E sua lua, e seu escuro,
sua facilidade e seu vão
residem todos no imprevisto,
no instante que escapa,
em que se atropela o jogo de luzes que transpira nas propagandas.
E há o sonho e suas luzes, importante lembrar,
e o lance de dados: o coração desarmado, a despeito de tudo,
e as esculturas que há séculos sabem ler as horas nos olhos dos gatos.
Amar não mata.


2 comments:

Anonymous said...

... a fleeting glance.

Ah, what a thrilling picture! Tell us, please, where is this place! Some sunny day I will catch that tree. In the spring, when "SHE" will be full of green leaves... Here it is my propaganda-dream.

Ana Lígia said...

Aterro do Flamengo. Rio de Janeiro.