Wednesday, February 02, 2011

Somewhere In Time Musc Video(Original)




Deus é vingativo.

Não estou entendendo, ou melhor, estou entendendo que o que está acontecendo comigo é vingança braba por eu ter duvidado dele, duvidar ainda. Cortar os diálogos, enfim. Desliguei na sua cara, fazer o quê? Ele já não sabia que seria assim? Agora está querendo me surrar pelas costas e eu só vou poder aceitar mesmo. Uma bela surra, hein, deus? O que você sente enquanto eu me lamento, enquanto eu penso no futuro que eu não vou ter? Enquanto eu te encaro com olhos de cachorro? Me provoque no presente, não no futuro.

Eu ia andando pelas ruas e três carros de ambulância tocavam a correr forte. O som das sirenes era ensurdecedor. Passaram os carros e um homem tocava clarineta na nossa senhora de Copacabana. Eu ia rápido, mas ouvi uma melodia que me fez parar diante de uma vitrine de sapatos. Eram tênis masculinos da pior espécie e fiquei diante deles para ficar mais perto da música. Somewhere in time, e eu a tocava no piano quando era adolescente. Talvez a única composição que toquei muito bem. Em algum lugar do passado. A música me dopou no meio daqueles carros e transeuntes todos. Era tema de um filme com aquele ator que fora o primeiro super-homem no cinema, e na vida surreal ficou paraplégico e morreu. Talvez também tenha magoado deus em algum momento de sua vida. Não fui embora sem antes dar um(a) real(idade) para o clarinetista e dizer que adorava aquela música e agradecia muito a presença dele ali, naquele pedaço de calçada.

Um turbilhão de coisas me assaltou em um intervalo de tempo e logo depois eu me dirigi ao mar de Ipanema, para entregar uma rosa para Yemanjá. Fiz pedidos secretos e doídos. Nada material. Também pedi alegrias, que eu soubesse cultivar a felicidade em meu coração para não adoecer. Imunidade me parece uma coisa importante. E a você, o que parece?

Em algum lugar do passado ficou enterrado algum sonho que fora descoberto para ser contrariado. Tudo okay. Se um dia eu ficar velhinha, coloquem essa canção para eu ouvir, que mesmo desmemoriada, meu coração vai gostar. A história de um homem que se depara, em um belo dia, com um fragmento de memória que, de volta ao seu passado em delírio, em sonho, em morte, o impede de habitar o presente. Para voltar ao passado só morrendo duas vezes, não há volta sem alto custo.

No seu lugar, deus, eu faria tudo diferente.

1 comment:

AF said...

Lindo texto e a lembranca do filme que assistimos talvez um milhao de vezes na idade em que tudo machuca. Agora somos (auto)imunes. xxx