Friday, September 05, 2008

João Gilberto em Salvador

São duas e vinte e quatro da manhã.

Escrevo sob tensão.
O show? Lindo e baixinho...as pessoas tiravam foto do banquinho após o espetáculo. A noite ia feliz, os tímpanos agradados, não fosse o outro absoluto, aquele que tem fome, o bárbaro que sai das teorias para nos flagrar em momentos de despretensão.
Depois do espetáculo, eu e meu amigo resolvemos comer um sanduíche perto de casa, tomar uma cerveja rápida e conversar. Estranho, mas eu senti que isso poderia ser perigoso antes mesmo de iniciarmos nossa conversa no bar. De repente, um outro amigo apareceu do nada.
No bar, duas vezes a mesma briga com o mesmo cara. Os garçons expulsaram o homem alterado a empurrões.
Foi estranho também ver nossos garçons queridos tendo de apartar brigas que nunca vi existirem nesse bar.
Pouco tempo depois, resolvemos ir embora. Os dois me levariam em casa, a duas quadras dali.
Outro caminho podia ser tomado, mas não insisti, só pensei. Fomos andando: rápidos e felizes, os três.
De repente, o coro incessante de meninos foi crescendo ao nosso lado, estávamos sendo roubados na Avenida Sete, rua da minha casa, eram muitos de uma vez, eram ágeis, eu corri e gritei para correrem, atrás de mim, vi um dos amigos, o outro, onde estaria?
Pegaram o outro.
O que me acompanhava voltou. Eu estava na porta de casa. Os dois já voltavam sem carteira, telefone, sóbrios e tristes.

De dia catam papel, de noite roubam, ladrão.

Fomos dormir culpados por ter dado mole para o azar.
Nossos quartos quentes, nossa energia elétrica, meu maiô novo da nike para aulas de hidroginástica.
Tudo uma merda.
Sintoma de um mundo que não vai nada bem.
Apesar de tudo estar bem: nós, vivos, apesar da garrafa na garganta do amigo.
Nós ficamos bem, ele, inclusive.

O mundo é que caminha por pernas tortas, apesar de, ligeiramente bêbados, estarmos nós.

Os caminhos sob tensão.

São duas e cinqüenta e dois.
Ele cancelou os cartões.
E todos nós voltamos nus.
Para dentro de nossas casas.

1 comment:

Anonymous said...

que chato, fazia tempo que naõ aparecia. C tá escrevendo tão bacana, eu sinto tudo ;)