Saio para comprar frutas. Ouço na rua uma musiquinha que tocava em uma antiga caneta com uma ponta em formato de estrela que eu tinha quando criança. Chorando se foi quem só um dia só me fez chorar...
Muitos devem conhecer. Em plena Carlos Gomes, rua com nome de compositor de ópera cheirando a lixo e urina, o sentimento provocado pelo carro tocante transcendeu meu ser.
Comprei as frutas. Por que a sensação de que estou sendo roubada? Nada de preços em todos os lugares. As balanças falham. Onde foi que eu li que tudo tem um preço? Só não me perguntem o meu, não saberia dizer. Deve ser bem caro. Quero saber de antemão quanto custa tudo, mesmo que já seja roubada. Só pra saber.
Na volta, sou tomada por pensamentos. Ninguém imagina que por trás da minha blusinha branca morem tantos pensamentos em subníveis. Sorrio contente.
Ninguém, exceto eu, exceto deus, pode saber o que eu penso. Se houver espíritos que pairam pelo mundo, talvez eles suspeitem.
Subo as escadas do meu prédio. Agora, outro sentimento me domina: uma espécie de compaixão pelo mundo. Muita gente prefere trabalhar. Entro no apartamento que nem parece ser o meu. Tenho a sensação de ter aberto a porta errada.
E hoje ainda, que todas essas coisas aconteceram hoje!, imaginei encontrar alguém como eu na rua. Idêntica a mim. Roupas quase parecidas. Não nos enganávamos, o que havia era um reconhecimento recíproco da nossa semelhança. Ríamos pela coincidência. Era tudo no nível do inacreditável. Eu oferecia a ela um salário para ela ir trabalhar no meu lugar. Ela faria as viagens que ainda não posso fazer, Cuba, Chile, e me contaria depois o que achou. Se éramos tão parecidas, talvez pudéssemos pensar igual. (?)
Depois, refiz todo o pensamento. Nos víamos, parávamos na rua para comentar tal semelhança e seguíamos sós.
Ontem quase fui atropelada. Falta de atenção ou de sorte? Don’t answer this question.
Hoje quase mato um cara sem querer. Enganos acontecem.
O computador quebrou. Agora é isso: resolvi escrever com sangue.
3 comments:
Engraçado... Seu lado sombrio é meio alegre. Estava eu fuçando outros blogs e acabei caindo no seu... Adorei a leitura por sinal. Poemas Brutos é a mais pura verdade. Deixo aqui minhas congratulações e promessa que retornarei com mais comentários, mesmo que não faça tanta diferença...
Eu lembro daquela caneta infeliz, chata e colorida. Tempos bons aqueles, saudades daqueles tempos... Beijos Lissa.
Caramba! Vim olhar só de curiosidade e adorei o texto, assim como adorei o curta... Poxa, to ficando seu fã viu!!! rsrs
Bjão Liginha!
Rubinho.
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