Outro dia li uma frase do Denis Sena grafitada em um muro de Salvador. Você é único no meio da multidão. O ônibus continuou seu trajeto e mais à frente, no muro de uma escola infantil, eu vi outro escrito. Nós somos de todas as cores. Escrito por não sei quem, pode ser que pelos próprios alunos, levados pela direção da escola a fazer essa intervenção criativa nos muros da cidade que eu poluía com meu ônibus. Lembrei instantaneamente sobre os escritos plásticos de Lygia Clark sobre o retângulo, suas formas de ver a moldura, sua força de quadro que quer movimento em cena, quer encenação, quer sair andando pela parede e tomar os muros, os prédios, as cidades.
Outro dia, ainda, outro dia.
Um show nobre de Antônio Nóbrega nos oferecendo gentilmente mais uma aula-espetáculo e senti saudades de recife, da Olinda que nunca vi. Aqueles bonecos gigantes, aquela nega maluca. As cores, danças que mais pareciam tudo aquilo que a gente jamais conseguiria fazer com o corpo de tão dissimulado e simples. Aquilo era tudo de importante que meus olhos já haviam visto. Era a vida se tornando possível em cada gota, em cada milímetro, em cada passo de dança e de palavra. Os grafites no muro, a voz e a vez de Nóbrega, os desenhos do retângulo... e tudo se desfazendo e se refazendo em intensidade e possibilidade de existência. Você também é único no meio da multidão, Denis. Único. Como cada um deve ser.
No comments:
Post a Comment