estou com desejos de fuga.
desejos de fuga da minha língua materna.
vontade de fugir para dentro do Brasil, outra pátria a ser inventada,
cidades de nomes estrangeiros.
ainda hoje sonhei quando éramos crianças e nos dividíamos em grupos a pedido da professora.
era sempre difícil me ajeitar nessa proposta.
desejos de uma língua curumim onde a mentira muitas vezes repetida não tinha ainda encontrado ecos por ali.
os lábios cansados de Fanon pedem junto aos meus, pedem aos amigos mais zelo.
os antropólogos, os médicos filosofantes, os letrados de um Brasil seminu, e, ao mesmo tempo, uma única língua nos unindo, mais que o futebol e as artes, mais que o samba, os cheiros e as comidas, mais que as ditaduras, os abraços e a tortura da esperança.
Língua, devorada pelos meus sentimentos de fealdade.
Língua em que se arrepiam os pêlos mesmo quandoonde não se faz mais tanto frio.
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