vocês viram o BAtv de hoje? Simplesmente um horror ficar vendo os estragos que a chuva faz todo ano na vida de tantas pessoas. A chuva é linda. Aqui nunca faz friiiio, no máximo um cardigã. A chuva é a benfazeja, o desabotoado céu, como na canção. Mas por que as autoridades não se preparam para receber a chuva de uma forma decente para a economia e para as pessoas que moram nessa cidade? Todo ano é a mesma coisa ! Esta é uma cidade de imbecis! A água toda não escorre, não escoa como deveria...as casas enchem, se estraga os móveis das pessoas que trabalham tanto, que pelejam tanto com a vida. Isso não acontece comigo, com meus amigos. Acontece com gente que não conheço bem, gente que conheço pela televisão. É de surtar, mas eles não surtam. Continuam comprando móveis e apostando na vida.
De noite, era como se chuva nenhuma tivesse ocorrido no dia. Fomos ver Eva Yerbabuena, uma bailarina flamenca. Um espetáculo! Coisa de primeira linha, tudo bonito, luz perfeita, figurinos, as pernas cobertas pelos vestidos mostravam o andar que possuem: eram pernas fortes, pés que sapateavam o tempo, que investiam contra e a favor da música, pedindo mais rapidez, mais intensidade, mais, mais, mais, uma coisa meio glauberiana. Mas não havia glauber nenhum por lá.
A chuva era coisa do passado da manhã. Na previsão de tempo para o fim de semana: 22° graus, chuva e sol tímido no domingo. Hoje ainda é 5ª feira.
Na saída do teatro, uma figura de sempre, mão estendida em tom de pedido, corpo agachado no chão, de cócoras. Uma outra chega, andando meio rápido, intensidade do flamenco às avessas, tô com fome e diz, pede 10 centavos. Ninguém dá nada, ninguém, de todos aqueles bem vestidos, vestidos brocados, camisas bem passadas, não, nenhum centavo.
Ela anda rápido, dando voltas, parece inacreditável, ninguém dá, ninguém tem. Ela é um móbile, vejo seu corpo magro, negro, sim, são quase todos negros, quase todos, o homem de cócoras, a mulher; brancos os que foram ver o espetáculo, os seguranças são negros também. E não havia nada para nenhum deles ali, uma pratinha qualquer, para quem anda de brocados, qualquer coisa, nada. Meu móbile, pois logo me afeiçoei a ele, continuava com seu andar intenso e rápido.
Não conseguia entender o mundo. Devemos sempre sair com algumas moedas no bolso? Devemos ajudar e entender isso como dar esmola? Devemos ser contra a esmola?
Por que esmola é uma palavra tão feia? Por que existem palavras feias? Por que nós as inventamos? Como é mesmo o feio? \esmola\ é feio?
Corro para casa e sinto enorme vontade de fazer xixi. Prefiro sentar no computador rápido e digitar algumas letras. É meu tempo de reflexão. Depois, volta a mulher com fome para a rua não sei onde, deve ser perto de casa, imagino, aqui moram tantos...há de ser por aqui. Tomara que seja. No que depender de mim, dinheiro no bolso não vai faltar mais.
3 comments:
O Haiti é aqui. E São Paulo também. E Rio, e Belô, e Recife, e Uauá. Em Brasília, notória pedinte de rua possuía um casarão em Taguatinga e filhos graduados. A vida da gente é quase sempre dor e dúvida. Abr. (carlos)
Só muda o cenário... a cena é sempre a mesma.
Patrícia
É a vida. Dia desses, parados num sinal, chega muleque e pede um trocado, mesmo discurso, a fome. Demos uma moeda, ele olhou e jogou no chão. Foi embora, deixando para trás meu suado dinheiro. Nem mendigo mais quer salário mínimo que dirá centavos. Beijos Lissa.
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