Os filmes não falam dos ralos entupidos que temos que resolver. Eles falam de outras coisas. O apartamento começou a apresentar seus problemas, mas eu já estava distante de mim antes disso. Precisava de encontrar tempo para escrever mais sobre essa descarada sociedade do controle que vem tirando o meu poder matrix. Ser ou não ser, tupi or not? E eis que a questão ecoa de forma cada vez mais intensa e desligo o telefone para não receber convites que não poderei cumprir. Na verdade, ninguém tem me telefonado. E ontem, quando ele ligou, eu desliguei para não atender. Não queria aquele timbre de voz em meus ouvidos. Por que prometemos o que não se pode cumprir, por exemplo, fidelidade, amor? Tenho amado muito, tenho amado as donzelas que andam pelas ruas de vestido, as crianças que caminham com suas mães entre a poluição da cidade. Ainda não sei para que nasci. Estou indignada por minha mãe ter me trazido ao mundo, querido me ter, escolhido me ter se já tivera quatro, ainda mais eu. E depois tantas outras. Precisava de mais direção, de algo que me dissesse para que. Por isso durmo pelas tardes, sinto preguiça pelas manhãs, meus olhos caem sedo. Tenho feito faxinas intermináveis. Dispensei a moça que fazia isso para que eu mesma pudesse cuidar do que é meu. Voltar para aquela cidade onde nada acontece...e na verdade, na verdade mais verdadeira que se ficciona aqui dentro de mim, nada para se fazer por aqui também. Nesta cidade de malditos. O dia lá fora me convida para o trem das cores, mas não quero, hoje estou blue. Essa coisa de infinito, de passeatas religiosas, estou intolerante. Preciso oxigenar as idéias, mas com o peso de pedra que há em meu coração não dá. Queria acreditar que isso pudesse ser qualquer coisa, mas é mais, é mais, é mais. É desde que nasci, desde que nasci estou nesse jogo falido de tentar ser o que nem sei que sou. Uma tendência à depressão dos magros e qualquer coisa de extroversão afetada. Afetada, a palavra. Ainda não entendi: por que minha mãe me teve depois de tantas outras, por que eu vim, por que não fui, por que não tenho mais coragem de acabar logo com isso, por que as pessoas mentem tanto. Por que eu menti? A literatura? A literatura continua enfatizando esse jogo piegas de revolução que mata a cada dia com metralhadoras ácidas. A literatura continua sendo coisa de gente que tem tempo a perder.
Salvador, 1º de abril de 2006.
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